O Ferreiro

Muitos dos utensílios agrícolas e domésticos em ferro usados no quotidiano dos Carvalhenses eram feitos pelo Zé Grandela.
José António, natural do Ramalhos, começou a trabalhar na oficina que o pai tinha na fábrica de resina.

Aprendeu a arte de ferreiro ainda antes dos 16 anos.
Para trabalhar o ferro, Zé Grandela tinha de o aquecer de tal maneira a este ficar mais maleável.

Aquecia-o na chama de carvão a arder depois de soprar com o fole. Já quente malhava o ferro com um martelo até moldar o que o ferreiro pretendia.
É depois de casado que se muda para o centro da freguesia e monta a sua própria oficina.
Começou a ser conhecido pelos fogões, portas, portões e janelas que em ferro construía.

Para a agricultura tratava de machados, sachos e sacholas.
Com as encomendas a aumentar foi possibilitado empregar gente para aprender a arte e ajudar nos trabalhos.
Quando chega à Freguesia a florestação e os pinheiros começa-se também a extrair resina.

Zé Grandela especializa-se nos “mete-bicas”, objectos utilizados na extracção da resina.
A arte expandia-se também aos engenhos de tirar água dos poços, construindo muitos deles utilizados na Freguesia.
Foi o ferreiro de Carvalhal por mais de 40 anos.

A Parteira

Até 1982 não havia médico na Freguesia e para consultar um médico fora desta só os mais abastados o conseguiam.

Havia o barbeiro do Amioso que ás vezes fazia de médico. Sabia descobrir uma apêndice e arrancava dentes com um alicate de cortar arame, a sangue frio. Nos partos existia a Florinda do Prédio que era extraordinária a ajudar mães em trabalho de parto.

Florinda do Prédio morava no Vale da Macieira num belo prédio, de onde herdou a alcunha Prédio, ela e todos os que aí moraram.
Do casamento de Florinda e Zé nasceram 3 filhos, Zé do Prédio que casou com a Maria, o António casou com a Adelina morando fora da Freguesia e a Maria do Prédio que casou com o Domingos Feijão e moravam no Casal do Sesmo.
No Prédio ficou o Zé e a esposa Maria.

Florinda apesar de iletrada era muito inteligente com capacidades extraordinárias em ajudar mães a parir.
Ajudava no parto, tratava da roupa das mães e recém-nascidos, da comida e vigiava todo o processo pós-parto.

Fê-lo inúmeras vezes durante as décadas de 30 e 60. Foram raros os casos em que surgiram problemas de saúde. No caso destes aparecerem o remédio para a recuperação era a canja de galinha, guardada para estas alturas.
Nos poucos casos que os recém-nascidos faleciam era a filha Maria que ia a pé desde Carvalhal até à Sertã buscar os caixões que trazia à cabeça sem cobrar um tostão.